domingo, 5 de janeiro de 2014

Bárbara Heliodora deixa a crítica teatral aos 90 anos

O meu agradecido abraço e um ‘até breve’ a todos

Por Bárbara Heliodora 

Com o fim de 2013 fica terminada também a minha carreira de crítica teatral e, se por um lado a liberdade atrai, sem dúvida haverá momentos em que acharei ao menos esquisito não ter de ir ao teatro e escrever a respeito, ao fim de todos esses anos. Em primeiro lugar devo reconhecer e agradecer o enriquecimento emocional e intelectual que o teatro me deu; tendo sido sempre, de longe, minha arte favorita, não é de espantar que o teatro me tenha dado tanto ao longo dessa carreira que agora é concluída.
Como seria possível agradecer a todos os autores, desde Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, passando pelos romanos, renascentistas, barrocos, neoclássicos, românticos, realistas e todas as mesclas mais recentes que tive a oportunidade de ver ou ao menos ler? E embora ocupem período bem menor, é quase tão difícil agradecer aos atores, diretores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores, músicos (nas várias atividades) e diferentes técnicos cujo trabalho criou os milhares de encenações a que assisti, riqueza que inclui Dulcina, Procópio, Jaime Costa, Dercy Gonçalves, Sérgio Cardoso, Cacilda Becker, Walmor Chagas, Paulo Autran, Ítalo Rossi e Sergio Britto, para falar apenas de alguns dos que já se foram, e sem falar em tantos outros, mais recentes e também brilhantes. E conheci o trabalho de diretores como Zbigniew Ziembinski e Gianni Ratto, Adolfo Celi...
É claro que nem tudo foi bom, mas espetáculos como “O mambembe” do Teatro dos Sete, os “Pequenos burgueses” de José Celso, o “Marat/Saade” de Ademar Guerra, “O balcão” produzido por Ruth Escobar, o “Hoje é dia de rock” do Teatro Ipanema, “O beijo da Mulher Aranha” com Rubens Corrêa e José de Araújo, a “Navalha na carne” de Tônia Carrero, o “Romeu e Julieta” do Grupo Galpão e a “Comunicação a uma academia” de Ítalo Rossi me marcaram de modo inesquecível, ficando faltando muitos outros. E, fora da obrigação crítica, tive a sorte de ver no palco Jean-Louis Barrault, Jean Vilar, Laurence Olivier, John Gielgud, Kenneth Branagh (para não falar em nomes “menores”, como Jeremy Irons e Ralph Fiennes). Para quem gosta de teatro, pode existir profissão melhor? E tenho de agradecer igualmente a todos os leitores, afinal o elemento indispensável para que a crítica jornalística se justifique, assim como à imprensa que me acolheu e me permitiu, com isso, fazer o que me dava prazer, ou seja, ir ao teatro...
Sem fazer crítica, ocasionalmente aqui estarei, sempre falando de teatro, arte que nunca deixou de me fascinar. A todos, o meu agradecido abraço e um “até breve”, mesmo que fora da crítica a que dediquei tamanho pedaço da minha vida.