segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Critica aos críticos

Texto publicado por Sergio Martins no blog http://www.verbeat.org/blogs/miudos/2005/04/. Infelizmente, os links da autora do mesmo cujo primeiro nome é Olívia não se encontram mais disponíveis. 


Quem critica não sabe fazer.
Pode ser e pode não ser. Arte crítica são atividades diferentes, e pode acontecer de um bom artista ser também um bom crítico (ou um bom tenista, ou um bom cozinheiro…). Já citei o exemplo do Mel Bochner e do Dan Graham no campo da arte contemporânea, existem outros. Por outro lado, um bom artista também não é necessariamente um bom critico. Isso vale inclusive para o próprio trabalho. Uma vez produzido o trabalho, todo mundo – artista inclusive – passa para a posição de leitor. De leitor Barthesiano, por favor.
A função do crítico é ressaltar aspectos da obra normalmente inacessíveis ao grande público.
Não vou nem entrar em questões sobre elitismo e autoridade. Meu problema com este ponto de vista concerne diretamente, como eu vinha dizendo, à natureza da produção de sentido. O pressuposto aqui é que o autor, ao criar a obra, deposita uma série de significados nela, e que a função da crítica é tentar exaurir estes significados. Ao crítico, portanto, caberia um trabalho de exegese. É como se existisse uma “verdade” da obra. Não acredito nisso. Se a obra é uma entidade viva – o que me parece muito mais interessante -, então seu leque de sentidos é constantemente atualizado e enriquecido. Até porque ela só existe no ato, na performance da leitura. É neste momento que ela se debate com o fluxo de discursos de uma subjetividade, encontrando novas vias e esbarrando em resistências inéditas.
O bom crítico.
Existe? Não existe? Depende do que se considera a “boa crítica”. Se para você a crítica não vale nada, então não existem bons críticos. Para mim, o bom crítico nada tem a ver com julgamentos de gosto. A função dele é ar-ti-cu-lar. É levantar uma tese plausível e produtiva não sobre a qualidade da obra, mas sobre o que está acontecendo nela. Que discursos ela atualiza? Que paradigmas ela quebra? Que diferenças ela propõe? Onde ela se conforma, onde ela subverte? Como já me disse o David Cury, é uma questão de “pôr a obra em crise”.
A crítica aponta caminhos.
De certa forma, isto está implícito no ponto anterior. Mas alguns cuidados são essenciais. Se o sentido não está depositado na obra, é porque ele obviamente é um campo contestado. A crítica tenta apontar caminhos, mas não por zelar pelo bom andamento da autonomia da arte (como se isso existisse...). Um bom crítico defende ou ataca as escolhas de uma obra exatamente porque ele tomou uma posição em relação a ela. Por exemplo, um crítico preocupado com a questão feminista vai se deter em analisar até que ponto uma obra específica perpetua ou contesta modelos falocentristas, e com que eficácia. E vai fazer isso identificando as relações que a obra estabelece com a história cultural e com a trama social vigente.
O tempo dirá
Não, o tempo não dirá. Sem a crítica, o mais provável é que quem diga seja o mercado. Existem críticos competentes e incompetentes, críticos conservadores e progressistas, mas criticar faz parte da recepção de uma obra. Concordo também com o David quando ele diz que todo jornal deveria apresentar pelo menos duas críticas sobre um mesmo trabalho. Isso ajudaria a desmistificar a idéia da crítica como “interpretação autorizada”.
A crítica é um índice da inserção de um trabalho na história. Para o historiador, a análise de um texto crítico é essencial para a compreensão do que se esperava de uma obra de arte em dado momento, e como uma obra pode ser posicionada em relação às forças culturais de sua época.
Ai, ai, eu tento, mas não consigo. Já falei demais...

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